Béla Hamvas (1897-1967) foi escritor e filósofo húngaro, considerado um dos maiores pensadores metafísicos do século XX. Estudou literatura, história da cultura, da ciência, psicologia, filosofia e línguas orientais. Foi um inconformista, e devido à sua visão estética, o regime político sob o qual vivia o impediu em 1948, de publicar suas obras, que só postumamente, a partir de 1980, começaram a ser editadas.
Pouquíssimo conhecido, teve nas últimas décadas reeditadas as traduções inglesa e espanhola, entre outras, de pequeno ensaio intitulado A Filosofia do Vinho (escrito originalmente em 1945) que, nas palavras de Antal Duval “é uma apologia dos raros e solenes instantes da vida, da tranquilidade, da diversão e da serenidade do autoesquecimento. É o mundo da embriaguez dionisíaca, mediterrânea; a meditação semi-acordada e semi-sonhadora do apicultor numa tarde de agosto, sob a nogueira; a serenidade pura e cintilante de Orfeu: um dos raros e idílicos momentos vividos por Hamvas; numa palavra: uma taça do ardente Szekszárdi ou verde-dourado Somlói que nos pode fazê-los sentir.
No verão de 1945, durante curtas férias passadas em Balatonberény, Hamvas escreveu, praticamente de um fôlego, A Filosofia do Vinho, que expressa os primeiros tremores de um povo que, torturado e faminto, duramente castigado pelas linhas de frente, campos de concentração e abrigos anti-aéreos, acaba de alcançar a luz do sol. Curiosamente, porém, não manifesta desespero sobre as ruínas, mas exuberante alegria de viver”.
De estilo provocante, irônico e desafiador, suas ideias são quase arrebatadoras. Ao lê-lo não resisti à vontade de repartir com o leitor um pouco dessa inesperada descoberta. Ao invés de resenhar o livro, preferi dar a palavra diretamente a Béla Hamvas, que vai aqui nos excertos extraídos (e vertidos em português e inglês) da tradução espanhola de Adan Kovacsics (La Filosofia del Vino, Barcelona, 2014, Acantilado).
O texto abaixo me fez lembrar de dois amigos, uma mulher chamada Corita (e toda sua família) e um homem — húngaro de nascimento. A este, sim, posso colocar o nome completo: Roberto Szabo. Estes dois personagens reviveram em minha consciência a cada palavra de Béla Hamvas.
Permaneçam eles felizes eternamente!!!
Juan Carlos
No fim restaram dois: Deus e o vinho
Decidi escrever um livro de orações para ateus. Na penúria de nossa época, senti piedade pelos que sofrem e desejo ajudá-los desse modo. Tenho plena consciência da dificuldade de minha tarefa. Sei que nem sequer posso pronunciar a palavra Deus. Terei que falar dele valendo-me de outros nomes, por exemplo, beijo, embriaguez, presunto cozido. Escolhi como nome supremo o vinho. Daí intitular-se este livro A Filosofia do Vinho; daí também a escolha do lema: “No fim restaram dois: Deus e o vinho”.
As circunstâncias obrigam-me a este truque de prestidigitação. Como se sabe, os ateus são de arrogância digna de compaixão. Bastaria verem o nome de Deus para atirar ao chão este livro. Sofrem ataque de raiva toda vez que alguém toca na ideia fixa deles. Mas se me valho de palavras como comida, bebida, tabaco ou amor, quer dizer, se recorro a esses nomes enigmáticos, conseguirei ludibriá-los, pois além de presunçosos são estúpidos. Por exemplo, desconhecem inteiramente este tipo de oração; creem que só se pode rezar no templo, ou murmurando palavras sacerdotais.
Ao invés de combatê-los e tratar de convertê-los, compadeço-me deles. Não se trata de simples ardil. Não quero tirar-lhes nada; ao contrário: gostaria de oferecer-lhes algo que lhe falta, algo cuja carência os torna débeis, pobres e, por que negá-lo, também ridículos.
Um livro de orações para ateus? Sim, e ademais, escrito de tal modo que o leitor nem se dá conta de que lhe ensinam a rezar. Quase nada. Como diz Nietzsche, só existe um modo de expressar-se: com cinismo e inocência. De forma perversa e sofisticada, com uma inteligência quase malvada e ao mesmo tempo com o coração puro, com alegria e simplicidade, como o pássaro canoro.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para dirigir também algumas palavras aos pietistas, esta tenebrosa seita de ateus. O pietismo não passa de ateismo disfarçado. No fundo o pietista é tão ateu quanto o materialista, mas como tem ademais má consciência, reveste-se inteiramente da roupagem de verdadeira religião. O pietista é anti-alcoólico. Sei perfeitamente que o título desta obra o escandaliza, e ele exclama com expressão irritada e sombria: “Mas que blasfêmia é esta?” Indignou-se quando ousei dizer que Deus se encontra também no presunto cozido. Recomendo-lhe calma. Escutará mais coisas. Prometo dar-lhe particular atenção e não perder a menor oportunidade de escandalizá-lo o mais que puder.
Este livro se dividirá necessariamente em três partes. Digo necessariamente porque todo bom livro se divide em três partes ou, dito doutra forma, porque a estrutura perfeita é a ternária e também porque o número do vinho é o três e isto deve ficar evidente na divisão do livro.
A primeira parte está dedicada à metafísica do vinho. O objetivo, e inclusive a pretensão desta parte, consiste em assentar as bases de toda futura filosofia do vinho. Do mesmo modo que Kant expressou todos os pensamentos decisivos da filosofia do porvir, que podemos aceitar ou recusar, mas que ninguém pode, em hipótese alguma, ignorar ou ler por alto, como se nunca tivessem sido formulados, desejo expor nessa seção os conceitos universais e permanentes da metafísica do vinho.
Sei que ao empregar a palavra metafísica, transgrido limites. Nada obstante, a palavra manteve-se oculta até agora. Nem mesmo aparece no título. Trata-se de uma limitação que não posso deixar de impor-me, pois os ateus desconfiam até da filosofia, apesar de se tratar do termo mais elevado que ainda conseguem suportar.
A metafísica ofende a tal ponto sua teimosia que, se eu tivesse intitulado o livro A Metafísica do Vinho, eles nem sequer se atreveriam a abri-lo.
A primeira parte versa, pois, sobre o vinho como realidade sobrenatural. A segunda trata do vinho como natureza, de sorte que, por definição, é de caráter descritivo; trata da uva e suas variedades, dos tipos de vinho, da relação entre terra e vinho, entre água e vinho, com especial atenção a nossos molhos, mas tendo em conta também os vinhos estrangeiros de mais renome.
A terceira parte é a teoria da cerimônia do vinho. Examina quando se há de beber e quando não. Como beber? Onde beber? Em que recipientes beber? Sozinho? Em companhia? Com um homem ou com uma mulher? Trata dos vínculos entre o vinho e o trabalho, entre o vinho e o passeio, entre o vinho e os banhos, entre o vinho e o sonho, entre o vinho e o amor. Inclui regras relativas a que vinho deve beber-se e em que ocasiões, em qual quantidade, que pratos deve acompanhar, em que lugares e de que maneira combiná-lo com outras substâncias. Esta parte não pretende em absoluto ser exaustiva. Ao contrário, quer apenas ressaltar a riqueza ilimitada das possibilidades do beber.
A divisão ternária está estreitamente vinculada às três grandes épocas da história universal do vinho. A parte metafísica corresponde naturalmente à idade antediluviana, quando a humanidade não conhecia ainda o vinho, limitando-se a sonhar com ele. Depois do dilúvio, Noé plantou a primeira videira, começando assim uma nova era na história do mundo. A terceira época começa com a conversão da água em vinho e neste período vivemos na atualidade. A história do mundo atingirá o ápice quando o vinho brotar de fontes e poços, quando cair das nuvens, quando lagos e mares se transformarem em vinho.
Que é o vinho? Uma máscara religiosa. Existe algo atrás dela. Alguém que possui número ilimitado de máscaras, que vive ao mesmo tempo a máscara de Mercúrio, do ouro, da nota fá e da cor vermelha, e que é ao mesmo tempo um livro, uma conversa, um riso de mulher, umas taças e um pato assado.
O primeiro pecado, o mais profundo, o pior mal, foi a má religião, a atitude má. A Biblia o chama pecado original. A partir daí, trazemos todos em nosso interior essa comoção, produzida na base de nosso ser, na atitude religiosa. Porque a sacudida é religiosa. O dilúvio não conseguiu libertar-nos da comoção. Com o arco-íris, todavia, chegou a bebida moderadora. Só posso entender o vinho como um dos atos de graça supremos. O vinho alivia. Temos vinho. Podemos fazer desaparecer o choque maldito. O vinho devolve a vida originária, o paraíso, e nos mostra onde nos encontraremos na última celebração universal. E o homem só é capaz de suportar a ponte que une o primeiro dia e o último, em estado de transe. E estado de transe é o vinho.
Cada Vinho é individual. Em cada vinho (variedade, colheita, denominação, terreno, idade) vive um gênio irrepetível, inimitável. Em cada vinho habita un anjinho, que não morre quando bebemos o vinho, mas que se reúne com os inumeráveis anjinhos e pequenas fadas que moram no homem. Quando bebemos, os gênios que estão em nosso interior saúdam o recém-chegado com hinos e chuva de flores. A pequena fada, encantada, sente tamanha alegría que está a pique de combustão espontânea. E essa súbita chama da alegria se expande por nosso interior e nos enfeitiça. Não há como defender-se contra isso. Daí minha afirmação de que uma taça de vinho representa o salto mortal do ateísmo.
Antes de adentrar na história natural do vinho, gostaria de dirigir-me àqueles para os quais escrevi este livro. Sei que ao ler as primeiras frases, todo ateu se terá ofendido pelo tom de superioridade com que me atrevo tratá-lo. Quanto mais tenha avançado, mais terá aumentado sua indignação, levando-o a protestar calorosamente contra o tom sarcástico e indelicado de algumas passagens. No fim não lhe terá sobrado outra alternativa a não ser tranquilizar-se, dizendo que o autor não é um ser superior, mas sim um prepotente.
O que mais lhe terá molestado quem sabe tenha sido que esperava um sermão puritano e acabou encontrando o avesso disso. Se as coisas são exatamente como afirma o ateu, peço aqui mil desculpas e garanto-lhe que não era meu propósito ofendê-lo. Não era em absoluto minha intenção valer-me de tom prepotente, pois a religião me proíbe.
O segundo ponto de minha ofensa é o seguinte: ridicularizei o ateu? Apresentei-o como um estúpido? Chamei-o de aleijado?
Eu não precisava de pô-lo em redículo, pois ele já é. Tampouco precisaria fazê-lo parecer estúpido, pois é evidência tão gritante, que era impossível retardar mais sua revelação ao público.
Compreendo que seja amargo aos ateus reconhecer isso, mas não posso fazer nada para evitá-lo. Resta-me apenas insistir em mostrar-lhes sua situação desesperadora e ensinar-lhes o caminho certo. Esse é meu propósito e com essa intenção começo a segunda parte do livro.
Gostaria agora de evocar uma de minhas meditações mais belas sobre o vinho. Ocorreu entre os vinhedos de Berény, próximo de uma adega, estando sentado sobre um banco de pedra sob enorme nogueira, contemplando o lago. Á frente tinha o Badacsony, el Gulács, as colinas de Révfülop y Szigliget. Era uma tarde sufocante. Eu me banhara pela manhã no lago; depois almocei e passado breve descanso saí para ler. O livro, porém, ficou abandonado ao meu lado: sequer o abri, pois mais não fiz do que contemplar o verão. A uva já amadurecia nas videiras. “Esta é a Riesling, aquela, a Silvaner, a mais à frente a Otello, a Burgunder, a Mézes fehér ou blanco miel, a Kékoportó...” Então pensei: curioso que estas numerosas manifestações disfarçadas sejam todas o Um, achando-se, todavia, seu valor precisamente no fato de que cada uma seja inconfundível, fiel a si mesma e nada mais. Nesse sentido, as uvas e os vinhos são como as pedras preciosas: manifestações do único Um. E no entanto, são ao mesmo tempo distintas essências espirituais do Um. Comecei a comparar a esmeralda, o rubi, o topázio, a ametista, a cornalina, o diamante com os vinhos que lhes correspondem. Confesso que ao realizar esse exercício pensei na mulher, o que foi de grande ajuda, como sempre que meditei sobre a infinita variedade das essências espirituais. As pedras preciosas são mulheres e garotas, manifestações disfarçadas, que conservaram essa propriedade única de sua beleza, o feitiço radiante. Aí está seu encanto. Nada obstante, não é para interpretar-se este feitiço no sentido de uma falsidade, mas sim no de uma magia natural. É seu verdadeiro ser. Sua essência. Se fosse possível, me encantaria extrair o ser espiritual de uma jovem bonita e ir purificando-o, destilando, condensando, filtrando, cristalizando até conseguir sua essência concentrada e imperecível. De toda mulher bela se poderia fazer ao final uma pedra preciosa. O vinho, ainda que nesse caso, me vez de cristalizá-la, seria preciso dissolvê-la. A pedra preciosa eu a engastaria em ouro e então absorveria sua essência através dos olhos. E o vinho, logicamente, eu o beberia. Como se diz nos Salmos: “Provai-o e vereis...” Claro que o ideal seria poder converter a pedra preciosa em mulher, quando eu quisesse, para poder admirá-la; depois a transformaria de novo para poder bebê-la, finalmente tornaria a convertê-la em pedra preciosa para que durasse eternamente. Minha mulher e meu vinho estariam feitos de zafira, ametista, pérola, diamante, esmeralda e topázio.
A tese principal de minha anatomia da embriaguez é a seguinte: a raiz de toda embriaguez é o amor. O vinho é amor em estado líquido, a pedra preciosa é amor cristalizado, a mulher é o amor encarnado e vivo. Se a todo isso acrescento a flor e a música, sei que esse amor brilha com todas as cores, que canta, exala perfumes e sei que posso comê-lo e bebê-lo.
Formulo a seguinte pergunta: O que é essa inquietude tão parecida com uma enfermidade, essa limitação irritada, essa impaciência que hoje se chama nervosismo — tão própria do ateísmo? Não é possível viver sem religião. É uma consternação tão antiga quanto irrefutável. Existem as boas e as más religiões. Nada além disso. O homem ou crê em Deus ou em um sucedâneo. E há muitos tipos de sucedâneo: podemos chamá-lo princípio, concepção do mundo, ditadura, progresso. Atualmente, o nome do sucedâneo da religião é materialismo. Por que se chama a si mesmo desse modo é um mistério. Eu sou o materialista, caro amigo, eu que rezo aos pimentões recheados e às gombóc de batatas rechedas de ameixa, que sonho com o perfume que exala o lóbulo da orelha das mulheres, que adoro as pedras preciosas, que vivo em poligamia com todas as flores e todas as estrelas e que bebo vinho. Estão me escutando? E como acontece sempre, também neste caso tudo depende da qualidade, de tratar-se de um bom ou mau materialismo. Eu sou o defensor do bom materialismo.
Pois bem, agora formulo a pergunta: por que o ateu moderno jamais consegue o sossego? Vou explicar. O ateísmo no fundo é uma enfermidade da vida abstrata. Só há um remédio: viver de maneira espontânea. Enamorar-se da primeira mulher bonita, comer à vontade, passear entre flores, ir e viver num bosque de pinheiros, escutar música, contemplar quadros e sobretudo beber vinho, muito vinho. É que a boa religião é um talento que só se encontra nas pessoas sadias. Dissolve-se e se evapora na impureza. Disse-o o um de nossos grandes sábios contemporâneos num momento particularmente iluminado. Essa impureza é a causa da inquietude e do frenesi dos ateus de hoje em dia, de sua confusão amorfa, vazia e patética. Acreditem-me, esta enfermidade só tem um remédio: o vinho. Tomem nota, meus pobrezinhos discípulos: vocês não são apenas aleijados, não são apenas estúpidos e idiotas, privados de toda riqueza da vida; não são apenas doentes, são também impuros. Esse é o principal motivo da inquietude de vocês. Por isso são infelizes. Carecem da pureza necessária para a grande iluminação. Vinho! Volto a repetir: bebam vinho! Então sentirão desejos de beijar, de ocuparem-se com as flores, cultivarem a amizade, dormirem bem e profundamente, rirem, lerem poesia em vez de periódicos pela manhã.
Sei que o que digo parecerá a muitos um escândalo e uma loucura. Conheço os que afirmam tais coisas. Faz dois mil anos esse mesmo tipo de pessoas vituperaram a são Paulo: o que ele dizia, aos judeus parecia um escândalo e aos gregos uma loucura.
Não creiam, amigos, que vocês podem acabar comigo tão facilmente: não creiam que por ser religioso sou tonto, que odeio o mundo, que sou sombrio e teimoso, que só me atrevo a saborear os pedaços doces quando ninguém está me vendo. Esse não sou eu, esse é o pietista que acabo de descrever e que nada tem a ver com a boa religião.
E agora vou dizer-lhes uma coisa. O escândalo e a loucura não são próprios de meu comportamento, mas sim do de vocês. Vocês, os ateus, vivem como os loucos e de forma escandalosa, mas eu não me escandalizo nem brigo por isso. Nem mesmo desejo que renunciem a nada, pobrezinhos, pois sei que vocês sofrem grande penúria. E mais: estimulo-os a não renunciarem a nada. Comam, amem, desfrutem e sobretudo bebam e bebam e bebam.
Não quero que sejam menos, e sim mais. Entendem? Burros! Falo de coração aberto, concretamente, aos cientificistas, aos puritanos e aos pietistas. Ainda que às vezes tenha descido a lenha sobre vocês, levem a coisa a sério e não se aborreçam. Foi blasphème d’amour, como dizem os franceses. Só repreeendemos a quem amamos. E creiam-me, meus queridos amigos ateus, não é em vão que a religião se chama religião e se relaciona com Deus. Só é realmente divino quem não sabe outra coisa senão amar, inclusive a seu inimigo. Vocês não estão condenados por algo externo: vocês mesmos se mantêm no inferno. Por isso, tudo depende de vocês. Toda alma nasce intata e não pode perder sua saúde. Sejam inteligente e recuperem-na. O remédio se encontra em toda parte. Bebam! O que lhes ofereço é o azeite da pureza, o azeite da embriaguez.
Bebam, que o vinho se encarrega do resto.
La Filosofia del Vino
Béla Hamvas (1897-1967) fue un escritor y filósofo húngaro, considerado uno de los más grandes pensadores metafísicos del siglo XX. Estudió literatura, historia de la cultura, ciencia, psicología, filosofía y lenguas orientales. Era un inconformista, y debido a su visión estética, el régimen político en el que vivía le impidió publicar sus obras en 1948, que que sólo póstumamente, a partir de 1980, comenzaran a editarse.
Muy poco conocido, en las últimas décadas se han vuelto a publicar las traducciones al inglés y al español, entre otras, de un pequeño ensayo titulado La Filosofía del Vino (escrito originalmente en 1945) que, en palabras de Antal Duval “es una apología de los raros y solemnes momentos de la vida, de la tranquilidad, la diversión y la serenidad del olvido de sí mismo. Es el mundo de la embriaguez dionisiaca, mediterránea; la meditación, medio despierta, medio soñando, del apicultor en una tarde de agosto bajo el nogal; la serenidad pura y chispeante de Orfeo: uno de los raros e idílicos momentos vividos por Hamvas; en una palabra: un vaso de Szekszárdi ardiente o Somlói verde dorado que nos puede hacerlos sentir.
En el verano de 1945, durante unas breves vacaciones en Balatonberény, Hamvas escribió, prácticamente de un tirón, La filosofía del Vino, que expresa los primeros estremecimientos de un pueblo que, torturado y hambriento, castigado duramente por las líneas del frente, los campos de concentración y refugios antiaéreos, acaba de llegar a la luz del sol. Curiosamente, sin embargo, no expresa desesperación por las ruinas, sino una alegría exuberante de vivir”.
Con un estilo provocador, irónico y desafiante, sus ideas son casi arrebatadoras. Mientras lo leía, no pude resistir al impulso de compartir con el lector un poco de este descubrimiento inesperado. En lugar de reseñar el libro, preferí darle la palabra directamente a Béla Hamvas, que va aquí en los extractos extraídos (y traducidos al portugués y al inglés) de la traducción al español de Adan Kovacsics (La Filosofia del Vino, Barcelona, 2014 , Acantilado).
El texto de abajo me recordó a dos amigos, una mujer llamada Corita (y toda su familia) y un hombre húngaro de nacimiento. A este sí le puedo poner el nombre completo: Roberto Szabo. Estos dos personajes revivían en mi conciencia con cada palabra de Béla Hamvas.
Que sean eternamente felices!!!
Juan Carlos
Al final quedaron dos, Dios y el vino.
He decidido escribir un libro de plegarias para ateos. En la penuria de nuestra época, he sentido piedad por quienes padecen y deseo ayudarlos de este modo.
Soy plenamente consciente de la dificuldad de mi tarea. Sé que ni siquiera puedo pronunciar la palabra Dios. Tendré que hablar de él recurriendo a otros nombres, por ejemplo, beso, ebriedad o jamón cocido. He elegido como nombre supremo el vino. De ahí que este libro se titule La Filosofía del Vino y de ahí ta0mbién que eligiera el siguiente lema: “Al final quedaron dos, Dios y el vino”.
Las circunstancias me obligan a este truco de pretidigitación. Como es bien sabido, los ateos son de una arrogancia digna de compasión. Les basta ver el nombre de Dios para tirar este libro al suelo. Sufren un ataque de cólera cada vez que alguien les toca su idea fija. Pero si me sirvo de palabras como comida, bebida, tabaco o amor, es decir, si recurro a estos nombres enigmáticos, lograré engañarlos. Porque además de engreídos también son estúpidos. Por ejemplo, no conocen em absoluto este tipo de rezo. Creen que sólo es posible rezar en el templo o murmurando palabras sacerdotales.
En vez de luchar y de tratar de convertirlos, los compadezco. No se trata de un mero ardid. No quiero quitarles nada, por el contrario me gustaría ofrecerles algo que les falta, algo cuya carencia los vuelve débiles, pobres y, por qué negarlo, también ridículos.
¿Un libro de plegarias para ateos? Sí, y además, escrito de tal modo que el lector no se dé cuenta siquiera de que le enseña a rezar. Casi nada! Como dice Nietzsche, sólo hay un modo de expresarse: con cinismo e inocencia. De forma perversa y sofisticada, con una inteligencia casi malvada, y al mismo tiempo, con el corazón puro, con alegria y sencillez, como el pájaro cantor.
Quisiera aprovechar esta ocasión para dirigir también unas palabras a los pietistas, esa tenebrosa secta de los ateos. El pietismo no es más que ateísmo disfrazado. En el fondo, el pietista es tan ateo como el materialista, pero, como además tiene mala conciencia, viste externamente el ropaje de la religión verdadera. El pietista es el antialcohólico. Sé perfectamente que el lema de esta obra lo escandaliza y que pregunta con expresión irritada y sombría: “¿!Pero que blasfemia es esta!?” Se ha indignado cuando he osado decir que Dios se encuentra también en el jamón cocido. Le recomiendo que mantenga la calma. Ecuchará más cosas. Prometo prestarle particular atención y no dejar pasar ni una sola oportunidad para escandalizarlo tanto como pueda.
Este libro ha de dividirse necesariamente en tres partes. Digo necesariamente porque todo buen libro se divide en tres partes o, dicho de otro modo, porque la estrutura perfecta es la ternaria y también porque el número del vino es el tres y esto debe manifestarse en la división del texto.
A primera parte está dedicada a la metafísica del vino. El objetivo, e incluso la ambición, de esta apartado consiste en sentar las bases de toda futura filosofía del vino. Del mismo modo que Kant expresó todos los pensamientos decisivos de la filosofía del porvenir, que uno puede aceptar o rechazar, pero que nadie puede en ningún caso ni eludir ni pasar por alto como si nunca se hubieran formulado, yo deseo exponer en esta sección los conceptos universales y duraderos de la metafísica del vino.
Sé que al usar la palabra metafísica transgredo una frontera. Sin embargo, la palabra se ha mantenido oculta hasta ahora. Ni siquiera aparece en el título. Se trata de una limitación que no puedo evitar imponerme, porque los ateos desconfian incluso de la filosofía, a pesar de que se trata del término más elevado que todavía son capaces de suportar. La metafísica ofende hasta tal punto a su cerrilismo que, si hubiera titulado el libro La Metafísica del Vino, ni siquiera se habrían atrevido a abrirlo.
La primera parte versa, pues, sobre el vino como realidad sobrenatural. La segunda trata sobre el vino como naturaleza. De modo que, por definición, es de carácter discriptivo. Trata de la uva y sus variedades, de los tipos de vino, de la relación entre tierra y vino, entre agua y vino, con particular atención a nuestros caldos, pero teniendo en cuenta también los vinos extranjeros de más renombre.
La tercera parte es la teoría de la ceremonia del vino. Examina cuándo se ha de beber y cuándo no. ¿Como beber? ¿Donde beber? ¿En qué recipientes beber? ¿Solo? ¿En compañía? ¿Con un hombre o con una mujer? Trata de los vínculos entre el vino y el trabajo, entre el vino y el paseo, entre lo vino y el baños, entre el vino y el sueño y el amor. Incluye reglas relativas a qué vino debe beberse en qué ocasiones, en qué cantidades, qué platos ha de acompañar, en qué modo combinarlo con otras sustancias. Esta parte no pretende en absoluto ser exhaustiva. Antes bien, sólo quiere resaltar la riqueza ilimitada de las posibilidades del beber.
La división ternaria está estrechamente vinculada a las tres grandes épocas de la historia universal del vino. La parte metafísica se corresponde naturalmente con la edad antediluviaria, cuando la humanidad no conocía aún el vino y se limitava s soñar con él. Después del diluvio, Noé plantó la primera cepa y empezó una nueva era en la historia del mundo. La tercera época empieza con la conversión del agua en vino, y en este período vivimos en la actualidad. La historia del mundo culminará cuando el vino brote de fuentes y pozos, cuando caiga de las nubes, cuando lagos y mares se transformen en vino.
Qué es el vino? Una máscara religiosa. Algo hay detrás de ella. Alguién que posee un número ilimitado de máscaras, que vive al mismo tiempo tras la máscara de Mercurio, del oro, de la nota fa y del color rojo y que es en el mismo instante un libro, una conversación, una risa de mujer, unas gafas y un pato asado.
El primer pecado, el más profundo, el peor mal, fue la mala religión, la mala actitud. La Biblia lo llama pecado original. Desde entonces, todos llevamos en nuestro interior esa conmoción que se produjo de la base de nuestro ser, en la actitud religiosa. Porque la sacudida es hereditaria. El diluvio no conseguió liberarnos de la commoción. Con el arco iris, sin embargo, lhegó la bebida mitigadora. Sólo puedo entender el vino como uno de los actos de gracia supremos. El vino lenifica. Tenemos vino. Podemos hacer desaparecer el shock maldito. El vino nos devuelve la vida originaria, el paraíso, y nos muestra dónde nos encontraremos en la última celebración universal. Y el hombre sólo es capaz de suportar el puente que une el primer día y el último en un estado de trance. Y ese estado de trance es el vino.
Cada vino es individual. En cada vino (variedad, cosecha, denominación, tierra, edad) vive un genio irrepetible e inimitable. En cada vino habita un angelito, que no muere cuando bebemos el vino, sino que va a reunirse con los innumerables angelitos y pequeñas hadas que moran en el hombre. Cuando bebemos, los genios que están en nuestro interior saludan el recién llegado con cánticos y lluvia de flores. La pequeña hada, encantada, siente tal alegría que está a punto de la combustión espontánea. Y esa súbita llama de la alegría se expande por nuestro interior y nos heticha. No hay manera de defenderse contra eso. Por eso afirmo que una copa de vino representa el salto mortal del ateísmo.
Antes de adentrar-me en la historia natural del vino, quisiera dirigirme a aquellos para quienes he escrito este libro. Sé que, al leer las primeras frases, todo ateo se habrá ofendido por el tono de superioridad con que me atrevo a tratarlo. Cuanto más haya ido avanzando, más habrá aumentando su indignación y habrá protestado acaloradamente contra el tonillo despectivo de algunas pasajes. Al final, no le habrá quedado más remedio que tranquilizarse diciendo que el autor del libro no es un ser superior, sino un altanero.
Lo que más le habrá molestado habrá sido que esperaba un sermón mojigato y resulta que ha encontrado todo lo contrario. Ahora bien, si las cosas son realmente tal como afirma el ateo, pido aquí mil disculpas al agraviado lector y le aseguro que no era mi propósito ofenderlo. No era en absoluto mi intención utilizar un tono altanero, porque me lo prohíbe la religión. El segundo punto de mi ofensa es el siguiente: ¿he ridiculizado al ateo? ¿Lo he representado como un estúpido? ¿Lo he llamado tullido? No tenía necedidad de ponerlo en ridículo, porque lo es. Tampoco tenía necesidad de hacerlo parecer estúpido, puesto que es un hecho tan clamoroso que no hubiera sido posible aplazar más su revelación al público.
Comprendo que a los ateos les resulte amargo reconecer este hecho, pero no puedo hacer nada para evitarlo. Lo único que puedo hacer es insistir en mostrarles su desolada situación y enseñarles el camino correcto. Éste es mi propósito y con esta intención empiezo la segunda parte del libro.
Ahora me gustaría evocar una de mis meditaciones má bellas sobre el vino. Ocurrió entre las vinas de Berény, junto a una bodega, cuando estaba sentado sobre un banco de piedra bajo el enorme nogal, contemplando el lago. Enfrente tenía el Badacsony, el Gulács, las colinas de Révfülop y Szigliget. Era una tarde sofocante. Por la mañana me había bañado en el lago: después almorcé y tras un breve descanso salí a leer. Sin embargo, el libro quedó abandonado a mi lado, ni siquiera lo abrí, porque no fiz más que contemplar el verano. La uva maduraba ya en las cepas. “Ésta es Riesling, aquélla, la Silvaner, la de más allá la Otello, la Burgunder, la Mézes fehér o blanco miel, la Kékoportó...” Y entonces pensé: “Qué curioso que esas numerosas manifestaciones disfrazadas sean todas el Uno, pero que su valor resida precisamente en que cada una sea inconfundible, fiel a sí misma y nada más. En este sentido, las uvas y los vinos son como las piedras preciosas: manifestaciones del único Uno. Y, sin embargo, son a la vez distintas esencias espirituales del Uno. Empecé a comparar la esmeralda, el rubí, el topacio, la amatista, la cornalina, el diamante con los vinos que les corresponden. Confieso que al realizar este ejercicio pensé en la mujer, lo cual fue de grande ayuda, como siempre que he reflexionado sobre la infinita variedad de las esencias espirituales. Las piedras preciosas son mujeres y muchachas, manifestaciones disfraza das que han conservado esa propiedad única de su beleza, el hechizo radiante. He aí su encanto. Sin embargo, no hay que interpretar este hechizo en el sentido de una falsedad, sino en el de una magia natural. Es su verdadero ser. Su esencia. Si fuera posible, me encantaría extraer el ser espiritual de una muchacha hermosa e irlo purificando, destilando, condensando, filtrando, cristalizando hasta conseguir su esencia concentrada y imperecedora. De toda mujer bella se podría hacer al cabo una piedra preciosa. El vino, aun que en ese caso, en vez de cristalizada, sería preciso disolverla. La piedra preciosa la engataría en oro y entonces yo absorbería su esencia a través de los ojos. Y el vino, logicamente, lo bebería. Como se dice en los Salmos: “Probardlo y lo vereis...” Por supuesto, lo ideal sería poder convertir la piedra preciosa en mujer cuando quisiera, para poderla admirar; después la transformaría de nuevo para poder bebérmela, finalmente tornaría a convertirla en piedra preciosa para que durase eternamente. Mi mujer y mi vino estarían hecho de zafiro, amatista, perla, diamante, esmeraldo y topacio.
La tesis principal de mi anatomía de la ebriedad es la seguinte: la raíz de toda ebriedad es el amor. El vino es amor en estado líquido, la piedra preciosa es amor cristalizado, la mujer es el amor encarnado y vivo. Si a todo esto le agrego la flor y la música, sé que este amor brilla con todos los colores, que canta, exhala fragrancias y vive, y sé que puedo comerlo y beberlo.
Formulo la seguiente pregunta: ¿qué es esa inquietud tan parecida a una enfemidad, esa limitación irritada, esa impaciencia — que hoy se llama nerviosismo — tan propia del ateísmo? No es posible vivir sin religión. Es una consternación tan antigua como irrefutable. Existen las buenas y las malas religiones. Eso es todo. El hombre o cree en Dios o en un sucedáneo. Y caben muchos tipos de sucedáneo: podemos llamarlo principio, concepción del mundo, dictadura, progreso. Actualmente, el nombre del sucedáneo de la religión es materialismo. Por qué se llama de este modo a sí mismo es un misterio. Yo soy el materialista, querido, yo, que rezo a los pimientos rellenos y a las gombóc de patata rellenas de ciruela, que sueño con la fragancia que exhala el lóbulo de la oreja de las mujeres, que adoro las piedras preciosas, que vivo en poligamia con todas las flores y todas las estrellas y que bebo vino. Vino. ¿Me escucháis? Y como ocurre siempre, también en este caso todo depende de la calidad, de si se trata de un buen o de un mal materialismo. Yo soy el defensor del buen materialismo.
Pues bien, ahora formulo la pregunta: ¿por qué el ateo moderno no consigue jamás el sosiego? Lo explicaré. El ateísmo es en el fondo una enfermedad de la vida abstracta. Sólo tiene un remedio: vivir de manera espontánea. Enamorarse de la primera mujer hermosa, comer a lo grande, pasear entre flores, ir a vivir a un bosque de pinos, escuchar música, contemplar cuadros y sobre todo beber vino, mucho vino. Es que la buena religión es un talento que sólo reside en los hombres sanos. Se disuelve y se evapora en la impureza. Lo dijo uno de nuestros grandes sabios contemporáneos en un momento particularmente iluminado. Esta impureza es la causa de la inquietud y el frenesí de los ateos de hoy en día, de su confusión amorfa, vacua y patética. Creedme, esta enfermedad sólo tiene un remedio: el vino. Tomad nota, mis pobrecitos discípulos, no sólo sois unos tullidos, no sólo sois unos estúpidos e idiotas, privados de toda la riqueza de la vida, no sólo sois enfermos, sino también impuros. Éste es el principal motivo de vuestra inquietud. Por eso sois tan desdichados. Carecéis de la pureza necesaria para la gran iluminación. Vino! Vuelvo a repetirlo: !bebed vino! Entonces sentiréis deseos d besar, de ocuparos de las flores, de cultivar la amistad, de dormir bien y profundamente, de rír, de leer poesía en vez de periódicos por la mañana.
Sé que lo que digo parecerá a muchos un escándalo y una locura. Conozco a quienes afirman tal cosa. Hace dos mil años ese mismo tipo de personas vituperaron a san Pablo: lo que decía, a los judíos les parecía un escándalo y a los griegos una locura.
Non creáis, amigos, que podéis acabar comigo tan fácilmente; no creáis que por ser religioso soy tonto, que odio el mundo, que soy sombrío y taimado, que sólo me atrevo a probar los bocados dulces cuando nadie me mira. Ése no soy yo, sino el pietista, al que acabo de discribir y que nada tiene a ver con la buena religión.
Y ahora os diré otra cosa. El escándalo y la locura no son propios de mi comportamiento sino del vuestro. Vosotros, los ateos, vivis como los locos y de forma escandalosa, pero yo no me escandalizo ni os riño por ello. Simplesmente he intentado ilustraros sobre lo que conviene hacer. Ni siquiera deseo que renunciéis a nada, pobrecitos, puesto que ya sé que pasáis gran penuria. Es más, os animo a no renunciar a nada. Comed, amad, disfrutad y sobre todo bebed y bebde y bebed.
No quiero que sea menos, sino más. ¿Entendéis? Burros! He hablado de todo corazón, concretamente a los cientificistas, a los puritanos y a los pietistas. Aunque a veces os haya puesto de vuelta y media, tomadlo muy en serio y no os enfadéis por ello. Ha sido blasphème d’amour, como dicen los franceses. Uno sólo reprende a la persona que ama. Y creedme, mis queridos amigos ateos, la religión no en vano se llama religión y se relaciona con Dios. Sólo es realmente divino aquello que no sabe más que amar, incluso a su enemigo. No estáis condenados al infierno por algo externo. Vosotros mismos os mantenéis en el infierno. Así que todo depende de vosotros. Toda alma nace intacta y no puede perder su salud. Sed inteligentes y recuperadla. El remedio se encontra en cualquier sitio. !Bebed! Lo que os ofrezco es el aceite de la pureza, el aceite de la ebriedad.
Bebed, que el vino se encarga del resto.
The Philosophy of Wine
Béla Hamvas (1897-1967) was a Hungarian writer and philosopher, considered one of the greatest metaphysical thinkers of the 20th century. He studied literature, history of culture, science, psychology, philosophy and oriental languages. He was a nonconformist, and due to his aesthetic vision, the political regime under which he lived prevented him from publishing his works in 1948, which only posthumously, after 1980, began to be edited.
Very little known, in recent decades the English and Spanish translations have been republished, among others, of a small essay entitled The Philosophy of Wine (originally written in 1945) which, in the words of Antal Duval “is an apology for the rare and solemn moments of life, tranquility, fun and serenity of self-forgetfulness. It is the world of Dionysian, Mediterranean drunkenness; the half-waking, half-dreaming meditation of the beekeeper on an August afternoon under the walnut tree; the pure, sparkling serenity of Orpheus: one of the rare and idyllic moments experienced by Hamvas; in a word: a glass of fiery Szekszárdi or golden-green Somlói that you can feel taste.
In the summer of 1945, during a short vacation in Balatonberény, Hamvas wrote, practically in one breath, The Philosophy of Wine, which expresses the first tremors of a people who, tortured and hungry, harshly punished by the front lines, concentration camps and air raid shelters, has just reached the sunlight. Curiously, however, it does not express despair over the ruins, but exuberant joy of living”.
With a provocative, ironic and challenging style, his ideas are almost ravishing. Upon reading it, I could not resist the urge to share with the reader a little of this unexpected discovery. Instead of reviewing the book, I preferred to give the word directly to Béla Hamvas, who goes here in the excerpts extracted (and translated into Portuguese and English) from the Spanish translation by Adan Kovacsics (La Filosofia del Vino, Barcelona, 2014, Acantilado).
The text below reminded me of two friends, a woman named Corita (and all her family) and a man — Hungarian by birth. To this one, yes, I can put the full name: Roberto Szabo. These two characters revived in my consciousness with every word of Béla Hamvas.
May they remain happy forever!!!
Juan Carlos
In the end, two remained: God and the wine.
I decided to write a prayer book for atheists. In the hardship of our time, I felt pity for those who suffer and I want to help them in this way. I am fully aware of the difficulty of my task. I know I can’t even pronounce the word God. I shall have to speak of him using other names, for example, kiss, drunkenness, boiled ham. I chose wine as the supreme name. Hence the title of this book The Philosophy of Wine; hence the choice of the motto: “In the end, two remained: God and wine”.
Circumstances compel me to this sleight of hand. As is well known, atheists are arrogance worthy of compassion. It would be enough for them to see the name of God to throw this book to the ground. They suffer a fit of rage every time someone touches their fixed idea. But if I use words like food, drink, tobacco or love, that is, if I use these enigmatic names, I will manage to deceive them, because besides being presumptuous they are stupid. For example, they are completely unaware of this type of prayer; they believe that one can only pray in the temple, or muttering priestly words.
Instead of fighting them and trying to convert them, I sympathize with them. This is not a simple ruse. I don’t want to take anything away from them; on the contrary: I would like to offer them something that they lack, something whose lack makes them weak, poor and, why deny it, also ridiculous.
A prayer book for atheists? Yes, and besides, written in such a way that the reader doesn’t even realize that they teach him to pray. Almost anything. As Nietzsche says, there is only one way to express yourself: with cynicism and innocence. In a perverse and sophisticated way, with an almost evil intelligence and at the same time with a pure heart, with joy and simplicity, like the songbird.
I would like to take this opportunity to also address a few words to the Pietists, this dark sect of atheists. Pietism is nothing but atheism in disguise. Deep down, the Pietist is just as much an atheist as the materialist, but as he also has a bad conscience, he dresses himself entirely in the guise of true religion. The Pietist is anti-alcoholic. I know perfectly well that the title of this work scandalizes him, and he exclaims with an irritated and somber expression: “But what blasphemy is this?” He was outraged when I dared to say that God is also found in cooked ham. I recommend you calm down. You will hear more. I promise to pay particular attention to you and not miss the slightest opportunity to scandalize you as much as I can.
This book will necessarily be divided into three parts. I say necessarily because every good book is divided into three parts or, in other words, because the perfect structure is the ternary and also because the number of wine is three and this should be evident in the division of the book.
The first part is dedicated to the metaphysics of wine. The objective, and even the intention of this part, is to lay the foundations for any future philosophy of wine. In the same way that Kant expressed all the decisive thoughts of the philosophy of the future, which we can accept or refuse, but which no one can, under any circumstances, ignore or read lightly, as if they had never been formulated, I want to expose in this section the universal concepts and permanent elements of the metaphysics of wine.
I know that when I use the word metaphysics, I transgress limits. However, the word has remained hidden until now. It doesn’t even appear in the title. This is a limitation that I cannot help but impose on myself, for atheists are even suspicious of philosophy, despite the fact that it is the highest term they can still bear. Metaphysics offends their stubbornness to such an extent that if I had titled the book “The Metaphysics of Wine”, they would not even have dared to open it.
The first part therefore deals with wine as a supernatural reality. The second deals with wine as nature, so that, by definition, it is descriptive; deals with grapes and their varieties, types of wine, the relationship between land and wine, between water and wine, with special attention to our sauces, but also taking into account the most renowned foreign wines.
The third part is the theory of the wine ceremony. Examine when to drink and when not. How to drink? Where to drink. In what containers to drink? Alone? In company? With a man or with a woman? It deals with the links between wine and work, between wine and walking, between wine and baths, between wine and dreams, between wine and love. It includes rules regarding what wine to drink and on what occasions, in what quantity, what dishes it should accompany, in what places and how to combine it with other substances. This part is by no means intended to be exhaustive. On the contrary, it just wants to highlight the unlimited wealth of drinking possibilities.
The ternary division is closely linked to the three great epochs in the universal history of wine. The metaphysical part naturally corresponds to the antediluvian age, when humanity did not yet know wine, limiting itself to dreaming about it. After the flood, Noah planted the first vine, thus beginning a new era in world history. The third epoch begins with the conversion of water into wine and in this period we live in the present. The history of the world will reach its climax when wine gushes from springs and wells, when it falls from the clouds, when lakes and seas turn to wine.
What is wine? A religious mask. There is something behind her. Someone who has an unlimited number of masks, who lives at the same time the mask of Mercury, gold, the note F and the color red, and who is at the same time a book, a conversation, a woman’s laugh, some glasses and a roast duck.
The first sin, the deepest, the worst evil, was bad religion, bad attitude. The Bible calls it original sin. From then on, we all carry within us this commotion, produced at the base of our being, in the religious attitude. Because the jolt is religious. The flood failed to free us from the commotion. With the rainbow, however, came the moderating drink. I can only understand wine as one of the supreme acts of grace. Wine soothes. We have wine. We can make the damn shock go away. Wine restores original life, paradise, and shows us where we will find ourselves in the last universal celebration. And man is only able to support the bridge that joins the first and the last day, in a state of trance. And trance state is wine.
Each wine is individual. In each wine (variety, harvest, denomination, terrain, age) lives an unrepeatable, inimitable genius. A little angel dwells in each wine, which does not die when we drink the wine, but who reunites with the innumerable little angels and little fairies that live in man. When we drink, the jinn within us greet the newcomer with hymns and showers of flowers. The little fairy, enchanted, feels such joy that she is on the verge of spontaneous combustion. And that sudden flame of joy expands within us and bewitches us. There is no way to defend against that. Hence my claim that a glass of wine represents the somersault of atheism.
Before delving into the natural history of wine, I would like to address those for whom I wrote this book. I know that when reading the first sentences, every atheist will have been offended by the tone of superiority with which I dare to treat him. The further he went, the more his indignation grew, causing him to protest warmly against the sarcastic and impolite tone of some passages. In the end, he will have no alternative but to reassure himself, saying that the author is not a superior being, but an arrogant one.
Perhaps what bothered him the most was that he expected a puritanical sermon and ended up finding the opposite of it. If things are exactly as the atheist claims, I apologize here and assure you that it was not my intention to offend you. It was by no means my intention to use a boastful tone, for religion forbids me to do so.
The second point of my offense is this: Have I made fun of the atheist? Did I introduce you as an idiot? Did I call you a cripple?
I didn’t need to put him in a hoot, because he already is. Nor would I need to make it look stupid, for it is such glaring evidence that it was impossible to delay its disclosure to the public any longer.
I understand that it is bitter for atheists to acknowledge this, but there is nothing I can do to avoid it. It only remains for me to insist on showing them their desperate situation and teaching them the right way. That is my purpose and with that intention I begin the second part of the book.
I would now like to recall one of my most beautiful meditations on wine. It took place among the vineyards of Berény, next to a winery, sitting on a stone bench under a huge walnut tree, looking out over the lake. Ahead was Badacsony, el Gulács, the hills of Révfülop and Szigliget. It was a sweltering afternoon. I had bathed in the lake in the morning; then I had lunch and after a short rest I went out to read. The book, however, was abandoned by my side: I didn’t even open it, for I did nothing but contemplate the summer. The grape was already ripening on the vines. “This is Riesling, that one, Silvaner, further on, Otello, Burgunder, Mézes fehér ou blanco miel, Kékoportó...” Then I thought: curious that these numerous disguised manifestations are all the One, finding them if, however, its value is precisely in the fact that each one is unmistakable, true to itself and nothing more. In this sense, grapes and wines are like precious stones: manifestations of the one One. And yet, they are at the same time distinct spiritual essences of the One. I began to compare emerald, ruby, topaz, amethyst, carnelian, diamond with the wines that correspond to them. I confess that when performing this exercise I thought of the woman, which was of great help, as always when I meditated on the infinite variety of spiritual essences. Gemstones are women and girls, manifestations in disguise, who have preserved this unique property of their beauty, the radiant spell. Therein lies its charm. However, this spell is not to be interpreted in the sense of a falsehood, but in the sense of a natural magic. It is its true being. Its essence. If it were possible, I would love to extract the spiritual being of a beautiful young woman and go on purifying, distilling, condensing, filtering, crystallizing until I get its concentrated and imperishable essence. In the end, every beautiful woman could be made into a precious stone. The wine, even if in this case, instead of crystallizing it, it would have to be dissolved. The gemstone I would set in gold and then absorb its essence through my eyes. And the wine, of course, I would drink. As it is said in the Psalms: “Try it and you will see...” Of course, the ideal would be to be able to convert the precious stone into a woman, whenever I wanted, in order to admire her; then I would transform her again so I could drink it, finally I would turn her back into a precious stone so that she would last forever. My wife and my wine would be made of sapphire, amethyst, pearl, diamond, emerald and topaz.
The main thesis of my anatomy of drunkenness is this: the root of all drunkenness is love. The wine is love in a liquid state, the gemstone is crystallized love, the woman is love incarnate and alive. If to all this I add the flower and the music, I know that this love shines with all the colors, that it sings, exhales perfumes and I know that I can eat it and drink it.
I ask the following question: What is this restlessness so similar to an illness, this irritated limitation, this impatience that today is called nervousness — so typical of atheism? It is not possible to live without religion. It is a consternation as old as it is irrefutable. There are good and bad religions. Nothing else. Man either believes in God or a substitute. And there are many types of substitute: we can call it principle, conception of the world, dictatorship, progress. Today, the name of the substitute for religion is materialism. Why he calls himself that way is a mystery. I am the materialist, dear friend, I who pray to stuffed peppers and plum-stuffed potato gomboc, who dream of the perfume that women’s earlobes exhale, who adore precious stones, who live in polygamy with all flowers and all the stars and that I drink wine. Are you listening to me? And as always happens, in this case too, everything depends on the quality, whether it is a good or a bad materialism. I am the advocate of good materialism.
Well, now I pose the question: why does the modern atheist never find peace?
I’m gonna explain. Atheism is basically a disease of abstract life. There is only one remedy: to live spontaneously. Falling in love with the first beautiful woman, eating all you want, walking among flowers, going and living in a pine forest, listening to music, contemplating paintings and above all drinking wine, lots of wine. It’s just that good religion is a talent found only in healthy people. It dissolves and evaporates in the impurity. One of our great contemporary sages said it at a particularly enlightened moment. This impurity is the cause of the restlessness and frenzy of atheists today, of their amorphous, empty, pathetic confusion. Believe me, this disease has only one remedy: wine. Take note, my poor little disciples: you are not just cripples, you are not just stupid and idiots, deprived of all the riches of life; you are not only sick, you are also unclean. This is the main reason for your restlessness. That’s why you are unhappy. You lack the purity necessary for great enlightenment. Wine! Again I say, drink wine! Then you will want to kiss, to be busy with flowers, to cultivate friendship, to sleep well and soundly, to laugh, to read poetry instead of newspapers in the morning.
I know that what I say will seem to many a scandal and madness. I know those who claim such things. Two thousand years ago this same type of people reviled Saint Paul: what he said seemed to the Jews a scandal and to the Greeks madness.
Don’t believe, friends, that you can get over me so easily: don’t believe that because I’m religious I’m stupid, that I hate the world, that I’m dark and stubborn, that I only dare to taste the sweet bits when no one is looking. That’s not me, that’s the Pietist I just described who has nothing to do with good religion.
And now I’m going to tell you something. Scandal and madness are not characteristic of my behavior, but of yours. You atheists live like crazy and outrageously, but I don’t get scandalized or fight about it. I don’t even want you to renounce anything, poor people, for I know that you suffer great hardship. And more: I encourage you not to give up anything. Eat, love, enjoy and above all, drink and drink and drink.
I don’t want you to be less, but more. Understand? Donkeys! I speak with an open heart, specifically, to the scientists, the puritans and the pietists. Even if I hit you hard at times, take it seriously and don’t get upset.
It was blasphème d’amour, as the French say. We only scold those we love. And believe me, my dear atheist friends, it is not in vain that religion is called religion and is related to God. Only is truly divine who knows nothing else but to love, even his enemy. You are not condemned by something external: you are kept in hell by yourselves. So it all depends on you. Every soul is born intact and cannot lose its health. Be smart and get it back. The remedy is found everywhere. Drink! What I offer you is the oil of purity, the oil of drunkenness.
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