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Foto do escritorCláudio Giordano

Um panfleto promocional do século XVIII


As raridades e preciosidades da BVReppucci não se configuram apenas em formidáveis incunábulos, em maravilhosas edições de arte, em manuscritos únicos e itens de igual natureza; expressam-se também em peças diminutas.

É o caso do bifólio pequenino (21 x 13,5cm), com a última página em branco, reduzindo ainda mais o texto, e encabeçado por rústica xilogravura, impresso por volta de 1790, em Auxerre.

Trazemo-lo à baila não pela inegável raridade, mas pelo seu caráter peculiar: é um folheto de divulgação. Louvando-se de um relatório (memória) provavelmente burocrático, produziu-se um texto de sobriedade e objetividade incomuns, que a um só tempo registra a história de um vinhedo, a descrição pormenorizada do terreno em que está plantado e das cepas das quais brotam as uvas ricas de açúcar e cor, que finalmente produzem o vinho comparável aos melhores bordéus e hermitages da época. Tudo isso em linguagem simples e direta, sem exageros, e tendo a ilustrá-la uma vinheta com elementos pertinentes ao assunto: um esboço do vinhedo, vendo-se ao fundo construções da cidade, e em primeiro plano o cão caseiro; o vinhateiro de braços erguidos como se desse graças aos céus; cachos de uvas, taças, e garrafas.

Procurando conservar-lhe a sobriedade, damos aqui a tradução do texto original do panfleto, redigido em francês.




Extrato de memorial sobre um vinhedo chamado La Vieille Plant



Existe no território de Pontigny um vinhedo de cerca de 4 hectares que pertenceu outrora aos religiosos dessa cidade e hoje é do Sr. Bernard. Reza a tradição que foi plantado por São Bernardo: a verdade é que as cepas são extremamente antigas, originando-se daí seu nome de La Vieille Plante (A Velha Planta).

Esse vinhedo situa-se em um plano levemente inclinado voltado para o nascer do sol. O solo é de natureza peculiar: a superfície é composta de terra vegetal, com mistura de arenito e um pouco de argila; abaixo dessa camada de mais ou menos 30 centímetros de espessura, estende-se um lençol de argila amarelada de 15 centímetros, que recobre um leito pouco menos espesso de minério de ferro, misturado com terra argilosa e saibro negro, tendo por cima um banco de argila esverdeada.

É ao lençol ferruginoso que os monges cistercienses atribuíam a excelência do vinho deste pequeno cantão; por isso procuravam manter as cepas bem recobertas por ele. Observa-se que esse lençol diminui à medida que se afasta da Vieille Plante, desaparecendo por completo a pequena distância dela; e sem ele, perde-se também a qualidade dos vinhos.

As cepas da vinha estão plantadas distantes umas das outras e mantidas à altura de oitenta centímetros. São todas da espécie Morillon negra ou Pinot franc, exceto algumas Morillon branca ou Beaunois: espécies de uvas cujo sabor açucarado prenuncia e nos proporciona um licor bem superior ao de todas as demais espécies.

Cioso de manter a reputação de seu vinhedo, o proprietário atual cultiva-o com o maior zelo; emprega como adubo apenas terras afins, que fecundem as plantas, sem contaminá-las nem nutri-las demasiado, levando-as a uma produção maior mas de menor qualidade.

Segundo o memorial, é ao conjunto dessas diferentes circunstâncias de terreno, cepagem e cultivo que se deve o vinho da Vieille Plante, vinho a um só tempo generoso, fino e de cor rica; guardado por quatro ou cinco anos, equipara-se aos bons vinhos de Bordéus, e guardado por mais tempo, alcança o hermitage. Em qualquer tempo, rivaliza com os melhores crus da Borgonha, segundo o juízo dos mais experientes gourmets: e neste caso, seduzir seus julgadores é ganhar legitimidade.

O Prefeito de Yvonne, movido pela fama do vinho, quis visitar o vinhedo, examiná-lo e sondar o terreno. O Sr. Boutarel, membro do conselho geral do departamento, autor do memorial, acompanhava-o em sua visita, sendo suas as observações acima reproduzidas.




 


Folleto promocional del siglo XVIII



Las rarezas y tesoros de BVReppucci no son solo incunables formidables, maravillosas ediciones de arte, manuscritos únicos y artículos similares; también se expresan en piezas en miniatura.

Este es el caso del pequeño bifolio (21 x 13.5cm), con la última página en blanco, reduciendo aún más el texto, y encabezado por xilograbado rústico, impreso alrededor de 1790, en Auxerre.

Lo mencionamos no por su rareza innegable, sino por su carácter peculiar: es un folleto. Elogiando un informe probablemente burocrático (memoria), se produjo un texto de inusual sobriedad y objetividad, que al mismo tiempo registra la historia de un viñedo, la descripción detallada de la tierra en la que se planta y las cepas de las que brotan las uvas ricas en azúcar y color, que finalmente producen el vino comparable a los mejores Burdeos y Hermitage de la época. Todo esto en un lenguaje simple y directo, sin exagerar, y teniendo que ilustrarlo con una viñeta con elementos pertinentes al tema: un boceto de la viña, ver en los edificios de fondo de la ciudad y en primer plano el perro casero; la viña con los brazos levantados como dando gracias a los cielos; racimos de uvas, cuencos y botellas.

Para preservar su sobriedad, damos aquí la traducción del texto original del folleto en francés.





Extracto conmemorativo en un viñedo llamado La Vieille Plant


En el territorio de Pontigny hay un viñedo de aproximadamente 4 hectáreas que perteneció a los religiosos de esta ciudad y hoy pertenece al Sr. Bernard. Según la tradición que fue plantada por San Bernardo: la verdad es que las cepas son extremadamente antiguas, de ahí su nombre La Vieille Plante (The Old Plant – Plantas viejas).

Este viñedo está situado en un plano ligeramente inclinado hacia el amanecer. El suelo es de naturaleza peculiar: la superficie está compuesta de tierra vegetal, con una mezcla de arenisca y un poco de arcilla; debajo de esta capa de unos 30 centímetros de espesor se encuentra una lámina de arcilla amarillenta de 15 cm que cubre un lecho de mineral de hierro ligeramente más grueso, mezclado con tierra arcillosa y grava negra, teniendo por encima un banco de arcilla verdosa.

Es a la hoja oxidada que los monjes cistercienses atribuyen la excelencia del vino de este pequeño cantón; Así que trataron de mantener las cepas bien cubiertas. Se observa que esta hoja disminuye a medida que se aleja de Vieille Plante (Plantas viejas), desapareciendo por completo a pequeña distancia; y sin ella, la calidad de los vinos también se pierde.

Las cepas de la vid se plantan muy separadas y se mantienen a una altura de ochenta centímetros. Son todas las especies de Morillon negra o Pinot franc, excepto algunas Morillon o Beaunois blancas: especies de uva cuyo sabor azucarado presagia y nos proporciona un licor muy superior a todas las demás especies.

Celoso de mantener la reputación de su viñedo, el actual propietario lo cultiva con el mayor celo; utiliza solo tierra fertilizada para las plantas, sin contaminarlas o sobrealimentarlas, lo que conduce a una producción de mayor pero menor calidad.

Según el memorial, es a todas estas circunstancias diferentes de terreno, cosecha y cultivo a las que se debe el vino de Vieille Plante, al mismo tiempo generoso, fino y rico en color; almacenado durante cuatro o cinco años, coincide con los buenos vinos de Burdeos, y almacenado más tiempo, llega a él Hermitage. En cualquier momento, rivaliza con los mejores Crus de Borgoña, según el juicio de los gourmets más experimentados: y en este caso, seducir a sus jueces es ganar legitimidad.

El alcalde de Yvonne, movido por la reputación del vino, quería visitar el viñedo, examinarlo y explorar el suelo. El Sr. Boutarel, miembro del consejo general del departamento, autor del memorial, lo acompañó en su visita, siendo sus observaciones arriba reproducidas.


Traducido por Juan Carlos Reppucci.




 


An 18th Century Promotional Flyer



BVReppucci's findings and treasures are not just found in formidable incunabula, wonderful art editions, unique manuscripts, and similar items- they are also expressed in miniature pieces.

This is the case of the small (21 x 13.5cm) bifolio which has the last page in blank - thus furtherly reducing the text, and a rustic wood engraving on the top which was printed around 1790 in Auxerre.

We decided to present it here not for its undeniable rarity, but rather for its peculiar character: it consists of a pamphlet that, praised by a possible bureaucratic report (memory), the text is made with an uncommon solemnity and objectivity, that, at the same time, records the history of a vineyard, the detailed description of the land on which it is planted and the vines from which sprout grapes rich in sugar and color, which finally produce a wine that is comparable to the best bordeaux and hermitages of its time. All this in a simple and straightforward language, without exaggeration, and illustrated by a vignette with elements pertinent to the subject: a sketch of the vineyard with buildings of the city in the back and in the front, the family dog; the farmer raising his arms, seeming to be thanking the skies; bunches of grapes, glasses and bottles of wine.

In order to preserve its sobriety, we will, hereinafter, translate from the flyer’s original text that was written in French.



Memorial Extract on a vineyard called La Vieille Plant


In the land of Pontigny there is a vineyard of about 4 hectares that once belonged to the religious community of that city, and which today belongs to Mr. Bernard. According to the tradition, it was planted by Saint Bernard: the truth is that the vines are extremely old, hence named La Vieille Plante (The Old Plant).

The vineyard is located on a slightly sloping area facing the sunrise. The soil has a peculiar nature: the surface consists of vegetal soil mixed with sandstone and some clay; below that layer of about 30 cm. thick, there is a layer of 15 cm. of a yellowish clay that covers a slightly thinner layer of iron ore mixed with clay soil and black gravel and, on the top, a greenish clay bank.

The rusty layer was the origin, according to the Cistercian monks, of the excellent wine produced in that little canton; that’s why they tried to keep the vines thoroughly covered with it. One can see how the layer fades away as it distances from the Vieille Plante, completely disappearing at a small distance; without it, the wines also lose their quality.

The vines are planted far away from each other and preserved at the height of 80 cm. They are all of the Morillon negra or Pinot franc types, with only some white Morillon or Beaunois: these types of grapes have a foreshadowing sugary flavor and produce a liqueur that is far superior to all the others.

The current owner, eager to maintain the reputation of his vineyard, cultivates it with the utmost care; he only uses fertilized soil to fertilize the plants, without contaminating or over-nourishing them, allowing him to produce more, but with poorer quality.

According to the memorial, the Vieille Plante wine, a lavish, fine and deep-colored wine, is the result of all of these different factors- the soil, the harvesting and the cultivation; stored for four or five years, it can be compared to the good Bordeaux wines and, if stored for more time, it can compete with the hermitage wine. It can, however, always be compared to the best Borgogne crus, according to the gourmet experts: and in this case, seducing its critics is equivalent to gaining legitimacy.

The Mayor of Yvonne, moved by the wine’s reputation, wanted to visit and examine the vineyard, as well as examine the ground. Mr. Boutarel, a member of the department's general council, author of the memorial, accompanied him on his visit, whose remarks are reproduced above.


Translated by Monica Haberer.




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